IL RITORNO D'ULISSE IN PATRIA, DUAS VERSÕES DE CLAUDIO MONTEVERDI. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.



 A Ilíada e a Odisseia serviram de inspiração para muitos compositores barrocos. Monteverdi utiliza a Odisseia para transformar a volta de Ulisses para casa em uma ópera. Segundo consta, esse retorno ao lar demorou dez anos e assim, somando-se aos dez anos da guerra de Troia, o herói ficou fora por vinte anos. Longa foi a espera de sua esposa Penélope, que ficou na fissura e ainda teve que aturar um bando de malandros querendo lhe usurpar o reino. 
   Musicalmente,  Il Ritorno D'Ulisse in Patria segue características barrocas:   baixo contínuo, recitativos e árias lentas. Ópera de longa duração, de ritmo lento que torna sua encenação complicada nos dias de hoje. Existem várias versões no mercado. Destaco duas:  a de Hans Werner Henze para Salzburg Festival (1985) e a de Pierre Audi para a Netherlands Opera (1998).
   A produção do Salzburg Festival opta por uma versão completa, figurinos tradicionais, carregados e uma encenação estática. Cantores de qualidade, Thomas Allen está soberbo como Ulisses, e Kathleen Khulmann faz uma Penélope apaixonada e emotiva. Orquestração correta  e uma direção que fica no trivial, conta a história com objetividade, indo direto ao ponto.
   Pierre Audi faz uma leitura diferenciada. Enxuga a história, corta cenas que julga desnecessárias. Sou contra esse procedimento. A obra deve ser encenada na íntegra, como foi pensada pelo libretista e pelo compositor.  Admito que a ideia trouxe dinâmica. Seus cenários são leves, minimalistas, sua luz participa do elemento cênico, sua direção movimenta a galera. Figurinos modernos, arrojados, atemporais. Imprime agilidade a uma ópera barroca, lenta por natureza. Os solistas são exímios, destaques para Brian Asawa e a Penélope de Graciela Araya. Instrumentos de época soam muitas vezes estranhos aos ouvidos de hoje, mas a busca de reconstituir a sonoridade original é deveras interessante - e muitas vezes chata.   
   Duas versões que imprimem estilos diferentes a uma mesma ópera. Uma segue o tradicional, arroz e feijão com fritas, clássica. Outra emprega recursos modernos de teatro, risoto de fungi com vinho tinto, inovadora. Mostra ao espectador a evolução na ópera, de canto com poucos recursos cênicos à era do teatro, onde a voz é um dos elementos e não o principal. Você escolhe seu caminho.     
Ali Hassan Ayache

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