A CULTURA DO DESCARTE - O DESMANTELAMENTO DA BANDA SINFÔNICA DO ESTADO DE SÃO PAULO. ARTIGO DE WILLIAN CARDOSO ABREU NO BLOG DE ÓPERA & BALLET.




Acompanhando os últimos acontecimentos no meio cultural Paulista fico imaginando o quão descartável a Cultura está se tornando em nosso estado.
Em todas as esferas a única palavra que se ouve é corte, arrocho, redução de custos e etc.
Em nível estadual Theatro São Pedro sobrevive à duras penas. Com programação incerta e orçamento ainda mais apertado, os teatro tem que se virar nos 30 para manter a casa funcionando.
Chegamos ao absurdo de o teatro passar o aniversário de 100 anos em Janeiro último completamente em silêncio. Não há programação definida, o futuro da orquestra do teatro é incerto e chega-se ao absurdo de pensar em fundir a orquestra do teatro com a Jazz Sinfônica.
Para completar, o Instituto Pensarte, a organização social responsável pela gestão do Theatro São Pedro, Banda Sinfônica e Orquestra Jazz Sinfônica anda envolvida em uma história bastante obscura e ainda pouco esclarecida de que teria sido privilegiada na licitação aberta pelo estado com a finalidade de atrair possíveis interessados na gestão desses organismos.
O mesmo Pensarte junto com a Secretaria de Estado da Cultura é responsável pela extinção da Banda Sinfônica do Estado de São Paulo. Acompanho a agonia dos músicos da Banda desde o final de 2016, quando os rumores começaram.
Como o estado tem a cara de pau de acabar com uma instituição do porte da Banda Sinfônica do Estado? Descartar um órgão cultural que é patrimônio da sociedade Paulista há quase 30 anos e que sempre teve desempenho de alto nível em concertos lotados. Como privar a população de uma instituição como essa e nem sequer dar uma explicação plausível para sua descontinuidade?
Lembro-me que há mais de 10 anos atrás a Banda Sinfônica foi uma das primeiras orquestras que assisti ao vivo. Sempre sobreviveu com o pouco que teve e sempre teve criatividade em suas atividades, buscando repertório e fazendo espetáculos que a mantinham como um órgão vivo. Executou o repertório de Banda clássico, fez ópera, música contemporânea e encomendas a compositores brasileiros. É triste ver o fim desta instituição, principalmente para mim e para muitos que acompanham a sua trajetória por concertos na capital e no interior.
Com músicos demitidos, sendo o último o atual regente Marcos Sadao Shirakawa, a banda existe agora somente no papel. De acordo com o Secretário de Cultura, José Roberto Sadek, a banda ainda pode promover concertos com sua formação a partir da captação de patrocínio. É uma maneira pouco educada de se dizer: Dane-se!
O governador Geraldo Alckmin simplesmente virou as costas. Mesmo com 5 milhões de reais aprovados pela Assembleia Legislativa o governo não se comoveu. Congelou a verba e deu o golpe de misericórdia na Banda.
Agora a questão é caso de justiça. Duas ações correm em paralelo, uma no Ministério Público Estadual e outra no do Meio Ambiente questionando a extinção da Banda como patrimônio histórico do estado e também o favorecimento do Instituto Pensarte na licitação para gerenciamento do Theatro São Pedro.
Em uma sociedade onde tudo é consumido e imediatamente descartado fico imaginando a que ponto chegamos. Chegamos ao ponto onde uma instituição importantíssima como essa é destruída diante de nossos olhos e não fazemos absolutamente nada.
Como me disseram uma vez, ao defender a manutenção de uma orquestra. “Esse tipo de música você encontra no Youtube e pode assistir a hora que quiser”.
Literalmente estamos nos tornando uma sociedade hipócrita e idiota. E que talvez mereça comer a salsicha com papelão.
Willian Cardoso Abreu

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