TATI HELENE EM A VOZ HUMANA PROVA QUE É UM DOS MAIORES SOPRANOS DO BRASIL. CRÍTICA DE ALI HASSAN AYACHE NO BLOG DE ÓPERA E BALLET.

  


    O Baixo Augusta em São Paulo era uma região infestada de inferninhos onde garotas de reputação duvidosa desfilavam até altas horas da madruga. Atualmente a região recebe uma galera descolada com bares e teatros fazendo programações interessantes. É nesse contexto que o Club Noir apresenta a ópera "A Voz Humana" de Poulenc com libreto de Cocteau. O pequeno teatro faz as apresentações serem intimistas, onde o espectador se encontra colado ao palco e próximo do artista.
   A Voz Humana é ópera em um ato e um monólogo para soprano, esta recebe ligações telefônicas dos mais diversos tipos e principalmente de seu amante. Interpretar a personagem Ella é um desafio enorme para qualquer cantora, exige enorme talento interpretativo e vocal e com ele Tati Helene prova que está entre os grandes sopranos do Brasil. Conheço poucas que teriam a coragem de se expor nesse papel complexo e desafiador. Sua voz de timbre negro, vigoroso oscila entre o tenro e o dramático conforme a necessidade da cena. Consegue com nuances vocais mostrar dramas e alegrias da personagem. Expressiva, complexa e penetrante: Assim pode ser descrito o talento vocal desse excelente soprano. 
   Sua interpretação cênica segue o mesmo nível vocal, consegue dramatizar e interagir com o cenário minimalista e a luz sempre na penumbra. O diretor Roberto Alvim expressa nessa ópera o mais moderno teatro da atualidade com movimentações intensas e gestos ousados onde atores aparecem do nada. O pianista Diego Salles a acompanhou com precisão. 
   A Voz Humana está sendo apresentada fora do circuito rotineiro da lírica paulistana. A iniciativa é excelente, é a chance de ver óperas raras. A prova definitiva que nossos artistas são obrigados a usar a criatividade para mostrar seu talento. O rei dos cantores estrangeiros poderia dar uma passada por lá, perceberia que Tati Helene é superior a maioria das cantoras que se apresentaram a peso de ouro no Theatro Municipal de São Paulo nos últimos três anos. 
Ali Hassan Ayache
   

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