AS SURPRESAS DE IDOMENEO NO THEATRO MUNICIPAL DE SÃO PAULO.

  Theatro Municipal de São Paulo.
  
   O anúncio oficial, do nobre Theatro Municipal de São Paulo, informa que a apresentação da ópera Idomeneo de Mozart como "concerto cênico" . Não foi o que aconteceu, a surpresa foi ver a ópera com montagem completa. Tomei um susto quando entrei no teatro e vi a orquestra no alto e na frente , imaginei qual era a surpresa? Depois da abertura ela desceu suavemente para seu devido lugar.
   Surpresa amarga: Diretores de ópera tem a mania de querer transportar a ação para tudo quanto que é lugar. Alguns adoram o atemporal, outros gostam de avançar algumas décadas e os mais ousados falam em séculos. Não tenho nada contra esse tipo de ideia. O perigo das transposições é cair no ridículo em algumas cenas , é o exagero na "concepção" . O Idomeneo apresentado no último dia 14/04/2012 teve direção cênica de Regina Galdino, a nobre diretora extrapolou no direito de viajar na ação. Transpôs tudo para a atualidade onde deuses da mitologia grega viram banqueiros inescrupulosos, o povão se manifesta contra os altos juros cobrados e a bolsa de valores cai . Concepção que não combina com o tema, a mitologia greco-romana .
   Conversas por computador e presos oprimidos tentam mostrar o lado atual da concepção, fica tudo embolado. É complicado adequar mitologia aos dias atuais.  Figurinos normais, o deus Netuno aparece com roupas estampadas em reais e dólares. A ideia de colocar o deus em cena não é nenhuma novidade, já foi utilizada em Salsburg/2006 . O deus tinha roupas mais adequadas a um ser celeste.

Idomeneo
   Defendo  a apresentação da obra conforme escrita pelo compositor, sou purista nesse ponto. A ideia de tirar os longos e muitas vezes cansativos recitativos e colocar uma narradora deu uma bela dinâmica e reduziu o tempo da ação, uma surpresa interessante. Para quem não conhece a obra e não tem contato com a mitologia grega é uma mão na roda. Quem conhece a obra fica com a sensação que faltou alguma coisa.
   A Orquestra Sinfônica Municipal regida por Rodolfo Fisher mostrou sonoridade volumosa e andamentos interessantes, o problema foi a falta do estilo mozartiano na apresentação da obra. A regência de Rodolfo Fisher toca Mozart como uma ópera romântica, como se ele tivesse vivido uns cem anos depois. O Coral Municipal se mostrou eficaz . Sua sonoridade foi muitas vezes atrapalhada pelas maluquices da direção.
 Gabriela Pace
   Os solistas arrebentaram, a maioria em noite inspirada e digna de um verdadeiro canto mozartiano. O mezzo-soprano Luisa Francesconi mostrou uma voz uniforme , um timbre escuro e uma bela atuação cênica. Um Idamante empolgante. Sua voz está tinindo , no ponto certo para interpretar outros papéis do repertório. Outra surpresa foi Gabriela Pace, o soprano cantou com maestria, detentora de uma técnica perfeita, agudos brilhantes , vivos e empolgantes. Seu timbre mudou de acordo com os sentimentos da personagem, áspero nos momentos de desespero e lírico nas partes animadas. Gabriela Pace acertou em cheio, compôs uma grande Ilia , digna de sentar ao lado do deus Netuno e cantar uma longa ária para acalmá-lo. 
Luisa Francesconi
   O tenor Miguel Geraldi mostrou uma voz pequena, isso não é nenhum demérito, seu timbre é puro lirismo. Empolga e se mantém constante do começo ao fim da apresentação. Fez um Idomeneo completo. A baixa ficou por conta de Claudia Riccitelli, com uma virose não pode se apresentar. Em seu lugar entrou o soprano Janete Dornelas, chamada de última hora, chegou as duas da manhã no dia da apresentação e às sete horas já estava ensaiando.  Cantou Electra cinco anos antes , relembrou as árias e conseguiu um belo timbre de soprano dramático. Tirou leite de pedra.
   Quem não acertou a mão foi Marcos Liesenberg, sua voz não tem a solidez necessária de um Mozart. Emissão quase sempre áspera e irregular, que troca agudos por gritos agressivos. Será que Mozart compôs isso? Duvido , seu Arbace/Sacerdote foi o elo fraco entre os solistas, fez uma interpretação contida com troca qualidade melódica transformando-se em gritos. 
   As surpresas mostram a organização e a desorganização do grande teatro paulistano: A direção conseguiu um sorprano de última hora , que cantou com dignidade e salvou a récita. O desagradável vem quando anuncia-se concerto cênico e se monta uma ópera completa. Todos os meios de comunicação divulgaram conforme o anunciado, algumas pessoas nas redes sociais reclamaram do erro e culparam a imprensa. O Theatro Municipal de São Paulo deve saber o que vai fazer, programar com antecedência o espetáculo e anunciar o correto. Todos os grandes teatros líricos do mundo divulgam suas programações com meses ou anos de antecedência, esse é o exemplo a ser seguido. 

Theatro Municipal de São Paulo

Ali Hassan Ayache 

Comentários

  1. Caro Ali Assan Ayache,
    Esperar um concerto cênico e ser surpreendido com uma montagem tão ousada não seria uma grata supresa?!
    Sinto muito que não tenha conseguido associar a crise econômica da Grécia com a mitologia grega, nem associar o temperamento do Deus Netuno às oscilações do mercado financeiro e como o povo que a maioria das vezes não tem nada a ver com essas operações do mercado, acaba pagando o preço. Não sei se o senhor tem lido os jornais e visto o movimento de "Occupy wall street" e tantos movimentos populares no mundo inteiro do povo reagindo as grandes operações que os estados fizeram injetando dinheiro de seus tesouros em bancos privados.
    O coro também não era o lírico, era o coral Paulistano com cantores convidados do lírico formando então o “coro Municipal”.
    O maestro Fischer teve belíssimo trabalho com coro,solistas e orquestra, conseguiu expôr suas idéias musicais,muito adequadas ao classicismo por sinal. Talvez a sua formação de engenheiro e melômano não permitam ao senhor fazer corretamente esse tipo de avaliação.
    É uma pena que no Brasil tenhamos tão poucos críticos e acabamos lendo e dando excessivo valor a esses impropérios que o senhor tem escrito de uns tempos para cá...!

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    1. Discordo em grau e em termos: ofencder a foramção universitária nunca é a solução! Discordar da concepção de uma montagem (que para mim foi bem em algumas coisas e ruim em outras) pode ser uma crítica vinda de qualquer um. O maestro Fischer não teve um belo trabalho não!!!!!!!!!!! o Regente conseguiu entrar antes de que um solista termine o recitativo é pura falta de concentração: Erro imperdoável. Andanmentos devagar e pouco controle da orquestra. Bom trabalho foi o de Nibaldo que ao preparar o "Coro Municipal" fez com que os cantores que antes não timbravam em peças simples como "Te Deum" de Bruckner cantassem mais que bem.

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  2. Querido anonimo
    Vc tem plena razao

    Carlo Olivier di Milano

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  3. Prezado "Anônimo",
    Concordo em tudo. O espetáculo foi memorável!!
    Abraço,
    Tânia Hübner

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  4. Caro engenheiro Ali Hassan Ayache,

    por que o Sr. não deixa para os profissionais da área; músicos, musicólogos ou jornalistas, fazerem o papel social de críticos de música? O Sr. se expõe ao ridículo a cada novo texto que escreve e publica com o viés de crítica e ainda por cima tem o ego tão inflado que não posta apenas em seu blog, onde quem quiser que visite, mas também lota as caixas de correio das pessoas com suas pérolas. Analisar o trabalho de profissionais como o Sr. tem feito, muitas vezes ridicularizando-os publicamente sem ter o mínimo de embasamento a não ser o seu "gosto pessoal", a gravação que ouviu ou a beleza física das cantoras deveria ser crime. Ponha a mão na consciência e veja se o Sr. está cumprindo o seu dito papel de divulgador da música lírica ou se está seduzido com a sua auto-imagem de grande conhecedor de dvds e gravações detentor de poder de juízo sobre o trabalho alheio. Uma pessoa que conhece música apenas de dvds e gravações não tem critérios sólidos o suficiente para analisar o trabalho musical de um regente, por exemplo, dizendo se a música está ou não adequada ao estilo clássico mozartiano. Até porque quem é do ramo sabe que não existe apenas uma linha de interpretação da música mozartiana. Guarde suas opiniões para si, aí sim o Sr estaria prestando algum serviço à música no Brasil.

    Atenciosamente,
    Leopoldo Henze

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  5. Não sou um melômano,mais os gritos do Sr.Marcos Liesenberg,encomodou bastante, e de fato achei muito confuso a intensão da direção queria passar.Depois que de ler a opnião dos senhores.Democracia é isso,quem fala o que quer ouve o que não quer.É como ir ao municioal na intenção de ver uma opera e ver aquilo lá.Concordo com senhor Ali!

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  6. Conhece revisor ortográfico?

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    1. vôce leu e entendeu, deixa de pavulagem em achar que é melhor que alguém só por que escraveu sem erros ortográficos.Eu não usei desse recurso, como você fez, e ainda escrevi muito rápido.Caro amigo anônimo pávulo

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  7. "Caro engenheiro (...) por que o Sr. não deixa para os profissionais da área; músicos, musicólogos ou jornalistas, fazerem o papel social de críticos de música? (...) Leopoldo Henze"

    Meu caro Leopoldo, bem-vindo ao Século XXI, onde não há oba-oba de coleguinhas um elogiando o outro, onde cada um tem o direito de escrever o que quer e divulgar se quiser. O mundo era bem melhor quando era possível controlar a informação, não é mesmo?

    Vamos acabar com as colunas de cartas dos jornais, deixemos apenas aos políticos a "função social" de comentar sobre política. Olha que boa idéia: que tal dar apenas aos esportistas o direito de comentar sobre o último jogo do Santos? E os engenheiros, ora, os engenheiros que escrevam apenas em revistas científicas!

    E ai de nós pensar que um espetáculo artístico seja concebido para o público! Ainda mais quando produzido com dinheiro da Viúva! Fechemos as portas do teatro, não vendamos ingressos, e só deixemos os "entendidos" entrarem! Que os agraciados com o direito de assistir ao espetáculo sejam eleitos por uma Comissão de Notáveis!

    Quanta besteira.

    Não concordo com tudo que o Ali escreve. Mas ele tem o direito de escrever.

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    1. Muito bem colocado! Se o leitor entende que o blogueiro não foi feliz em suas críticas deve rebater o conteúdo do texto. Criticar a formação acadêmica do autor da crítica é um argumento vazio: ópera é feita para o público e o público é composto por pessoas de diversas formações. A opinião do crítico é a visão de alguém que faz parte do público, que paga os ingressos e recolhe os impostos que financiam os espetáculos. Ele gosta se quiser, não é obrigado a achar tudo lindo, genial, perfeito, o máximo.

      Não fosse assim, o Municipal teria que preencher seus assentos exclusivamente com cantores, instrumentistas, artistas em geral, além dos respectivos familiares e amigos. Ao final, todos aplaudiriam, tirariam fotos, tomariam champagne, etc.

      E digo mais: excelente a comparação com os comentários sobre política ! Os nossos prefeitos, deputados, senadores, governadores, vereadores e presidentes podem comemorar à vontade - afinal, se só os profissionais da área podem ser críticos de música, só os políticos podem comentar sobre política. O senador Fulano foi pego com a boca na botija ? Não ouse se manifestar, caso você seja médico, dentista, terapeuta ocupacional ou faxineiro ! Deixe isso para os profissionais da área (e como são profissionais estes caras, LOL).

      "Não concordo com tudo que o Ali escreve. Mas ele tem o direito de escrever." (2)
      #ficaadica

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    2. Concordo, é muito fácil sempre olhar para os erros alheios e subjulgar as pessoas.No nosso país isso nunca acontece com mérito.Crítico sempre é crítico, já viram algum monumento em homenagem algum crítico,seja de qual aréa que for? Aos que se dizem letrados e entendedor do assunto, minha boa risada de deboche e uma boa semana.

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  8. Realmente,o problema não é o Ali escrever, é gente que deveria e poderia fazer isso melhor NÃO escrever. Deixa lá! Livre expressão para fazer a asneira que quiser na internet, na rua... Se existissem outras críticas - talvez de gente melhor preparada para fazê-lo, não é? - que valor teria o blog do Ali? E talvez ele até se acanhasse de querer publicar a crítica dele em todo lugar, enviar por e-mail, etc. Mas se ele escreve, ele também tem que estar preparado para a crítica de sua crítica, pô!

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    1. Vejo que algo pessoal,quem critica também recebe critica.Quem fala o que quer, ouve o que não quer , diz o ditado e isso é fato.Não há defesa e nem condenação do critico ou de quem o critica.O que não concordo é substimar a preparação de um critico,por causa da sua formação acadêmica ou outro motivo qualquer.Liberdade de expressão meu querido,e outra você pelo jeito é leitor assíduo so blog.Aquilo que nos faz bem ou então não nos serve,passa ser insignificante.Se incomoda é por que está dando importância.

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  9. Hugo Falcão de Mello9 de maio de 2012 às 22:25

    A direção cênica superou todos os ridículos possíveis e imagináveis. Seria menos danoso aos olhos do público se os cantores fossem obrigados a, de cócoras, se aliviarem em cima do palco. A obra de Mozart não é acessível, certamente, à dupla que conduziu a besteira que se tentou encenar. Aos que não gostam da liberdade de expressão, sugiro que sigam o roteiro acima.

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